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sábado, 24 de setembro de 2022

In memoriam


Tantas coisas calei por timidez

que irão morrer comigo lentamente...

De umas com remorso, de outras 

na palidez de algo 

que se dissolveu em mim 

precocemente...

Não  vai valer a pena confessar 

 coisas mesquinhas 

que guardei .

Foram sempre,

e só, 

muito minhas;

não interessarão decerto  a mais ninguém-

Arrasta-as o vento  e a brisa 

ao  passarem, em rodopio, 

diluídas em lágrimas,

 esquecidas em sorrisos 

pelo tempo concedidos,

   levadas que são 

na voragem de extenso e largo rio.

Ide ! - na vertigem da pouca vida 

que me resta.

Nada valeis como partilha do que deixo -

- pobre capital de emoções sentidas.

Largai-me no sossego da didtância 

e na serenidade de um silêncio 

a que me habituei ,

numa rotina contrafeita, 

ou revoltada,

do que não mereci 

e suportei. 

               Myriam


sábado, 3 de outubro de 2020

Sensações outonais...




Imagem florida de fins de verão e inícios de outono pelas matas beirãs.
Lindas na sua simplicidade; ricas pela variedade cromática que por vezes exibem.
Surgem-me como nostalgias da estação que finda e réstias de cor e alegria da que vem a caminho.
Agarra-se fortemente aos solos empedernidos, resistem aos grandes calores do verão e espraiam -se  às doces temperaturas do outono.
São urzes fortes e sadias que se agarram fortemente ao solo bravio em que nasceram. Nem os rigores do mais frio inverno as farão morrer.

Nem sempre as cores do outono parecem ouro sob o sol … Se chove muito, afundam-se na lama e servem para enriquecimento do solo… e das urzes. 






 

sábado, 13 de julho de 2019

Em jeito de oração...

...Hoje, a lua era uma enorme calote brilhante num céu de um azul tão profundo que me angustiou, talvez porque a luz do sol agonizando tardasse a desaparecer. Atraía-me como forte íman e apetecia-me ficar ali parada, a namorá-la. Porém, fui impedida pela responsabilidade de vários afazeres... e resisti, não sem lhe comunicar mudamente que, mais tarde, numa conversa dum travesseiro inexistente, trocaríamos confidências...
Lua amiga, vela por aqueles que, ainda que o não confessem, sofrem toda a solidão do mundo. Sinto-me de mãos atadas, sem poder valer-lhes.
 Ofusca-lhes um pouco as consciências sofridas com a luz que o sol te empresta e que vivencias com garbo e serenidade, espraiando-a em noites de magia e encantamento, e segreda-lhes que há sempre alguém no mundo que os amou, ou ama, ainda que tenham também sido perseguidos ou injustiçados como cruéis ou indiferentes. 
Não os deixes serem vencidos pela doença e protege-os dos perigos dos seus corações desiludidos ou cansados, muitas vezes bem maiores em talentos e generosidade do que um universo.
E em jeito de pena de ave, leve e suave como teia de seda, adoça-lhes cada dia com toda a imensa ternura da mãe que a todos criou.
Depois... se te lembrares de mim, traz-me, num raio de luar, o ruído calmo do seu respirar tranquilo. Eu ficarei bem e sossegada.
 E quando fores uma bola de luz na imensidão do firmamento, recordarei que te devo a explosão e emoção do afecto que um dia me inspiraste a experiencar...
Boa noite, lua!

quinta-feira, 13 de junho de 2019

Corre veloz o tempo de viver...


[24.04.19]

Existes para mim por te ter sonhado 
ou por ter-te amado? 
Nem interessa presente ou passado 
tão pouco qualquer futuro razoável...
 Sabendo que te amei em sonhos 
ainda antes de conhecer-te a voz agradável,  
também sei que agora te evoco com carinho  
e , mesmo que não queira, te amarei.
Se passado não interessa,
e o presente é só conversa ...
o que nos resta, afinal?...

Corre veloz, por aqui, o tempo de viver 
E  o amanhã lembra, mas não preocupa...
Que futuro... se tanto tentei afastar-me 
e,se possível, ignorar-te...
e não consegui?
Em que todo o esforço a fazer 
 na tarefa de esquecer
pesou demais na balança
do não acontecer?...
Desisti de forçar a  malfazeja  e masoquista tendência  
dum saudoso lamento 
e dei por aceite 
tudo o que implicasse ter-te 
ao recordar-te. 
Sequei as lágrimas de rejeição e dor  
e regressei,
 renascendo para a vida que restou...
e sussurro a cada hora com voz estremecida 
que, de ti, não quero afastar-me nesta vida
quer haja ou não haja ... amor.


quarta-feira, 16 de janeiro de 2019

ao findar novembro...


o sol espreitou, brincou na luz, nas texturas das copas das árvores, nos botões de rosa do jardim
 logo se escondeu depois atrás das nuvens pejadas de água
 a cinza mole do dia espalha-se em redor
molha o silêncio

 as sombras da sala penetram-me,
andam por dentro de mim
e na algidez do dia dum outono quente
 tão cheio ainda de folhas 
  que não tiveram tempo de secar
nem caíram das árvores ou juncarem o chão 
tecendo tapetes de tons queimados,  com ruídos secos, crestados
sou a nitidez que chora

 os dias do outono nunca são unânimes, na forma ou nos conteúdos- 
- as rosas e as outras flores destes dias
lembram mais as duma avançada primavera do que as de um verão macerado
falhou tempo,
falhou doçura
neste corte abrupto entre o fogo do verão e o início das primeiras invernias:
 a um sol abrasador sucederam-se cerce ventos fortes, frio, chuva e neves...

agora, num mesmo dia, há momentos de sol pleno
a alternar com um ambiente de cinza e de chuva mansa,
aquela que ouço afagar-me mansamente as vidraças,
 numa espécie de sussurro ritmado e contínuo

tu, que só foste verdade nos meus braços,
não te afastes
não me deixes
não consigo...
sem ti

sábado, 12 de janeiro de 2019

Farrapos

ontem
 ainda desejei ser pequenina nos braços de alguém...
*
hoje
 choro desiludida o esfarrapar dessa ilusão
*
amanhã 
 calma, indiferente, 
vou olhar a vida de frente
e sem sorrir 
*
e tremente assim vou ficar 
*
desespero?
amor?
ternura?
 tão pouco ódio
que não conheço
*.
só o pranto
 apenas e só
 o pranto...
*
 ao secar
arrastou o desejo vão 
de não mais esperar
*
 tristeza
passou então 
a ser o pão de cada dia 
dum tempo...a esfarrapar.

            Lx. - [13.04.1970]








quinta-feira, 25 de outubro de 2018

Os dias de cinza...


mais um dia se escoa *
toalha tecida a renda azul e cinza*
debruado a flash-backs de carinho*
 num fervor calado*
 mas revolto*
exalando gestos de vago sofrer,*
filosofia mesquinha de um apenas ser 
**
«pensa mas é em ti» - diz o mundo.*
dizem os velhos.
**
escuto o mundo. peneiro raciocínios.*
dentro de mim rasgam-se espelhos*
de um sentir marmóreo e solto*
gigante- mar na tempestade*
impiedosa, cruel, ansiosa...
**
brado à terra-mãe:*
 - haverá sempre nuvens de cinza*
entremeando luz radiante*
e um sol-pôr*
e noites de breu,*
e outras ainda silentes e olorosas
enquanto o tempo*
 implacável ,hirto, eterno,*
sussurrar*
à nossa porta.


sexta-feira, 30 de março de 2018

Não vale proibir...



Proibi-me tudo...
até a saudade

proibi-me sentir a repulsa 
de correr as cortinas das janelas 
para a luz


ou de encarar com emoção
o anoitecer


porém a alegria
perante o encanto do dia

oh! essa perdi-a de tal modo
que nem sei onde a pus.


domingo, 10 de dezembro de 2017

Tarte de morango...


serviu -te com o chá uma tarte de morangos: 
 grito de sereia 
para um deus desconhecido
sussurrando solidão e dor

qual borboleta atraída por rosa emurchecida
quase desfalecida sob os calores do verão 
atraiu um amor de ocasião
- só que não era então amor,
 mas sim loucura, 
desejo intenso e são de criatura 
 de há muito e sempre recusado 
como perigoso, desnecessário e vão

de longe morta para a vida
perscrutou-te a alma
e reacendeu a sua 
ao som  de um timbre vocal
em que a letra da canção tinha magia

brotou a paixão e o encantamento...
- como seria?...
- que mistério encobria?...

por fim, nada importava mais:
não conhecia os seus olhos,
apenas o que lhe chegara em melodia
e  tudo o resto, fosse o que fosse, era p'ra amar.



assim vai passando a vida
aquecida ao sabor do momento
até que o passamento
enterre na chaga do tempo 
a vontade imperecível de o sonhar.

segunda-feira, 30 de outubro de 2017

Indícios outonais...


Leio em  muitas entrelinhas 
 mentiras enganosas 
e por vezes duvido
 se algum dia foi verdade
 o abraço e o carinho 
ou o deslaço
que depois desfaço
no pisar do caminho.


O que (te) dizem os meus olhos? ...


Os meus olhos,
Apagados, ausentes,
São lagos de ilusões desfeitas.