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sábado, 6 de abril de 2019

Visita da chuva...


  no beiral sombrio a chuva cai...
cai compassada e forte... 
cai  sobre o solo negro e alastra ...
e vai... 
vai arrastada no vento
 num tremor friorento 
que agarra... 
e já não sai... 


estiola as pétalas tenras
 estremecidas
de flores mal floridas... 
esmaga-as com húmido afecto...
lança-lhes esse choro circunspecto
numa bênção tardia ...
humedece folhas...  
rega raízes...
 esconde a luz do sol que cria...
dissolvendo no ar aromas breves... 
mostra matizes 
e
vai levando e lavando 
ao som do silêncio das aves recolhidas
a imensa flor da  humana dor 
em gotas de agonia

M. Silva

        *** Imagens colhidas na net.






quinta-feira, 4 de abril de 2019

Da coragem...

Imagem de Sirlei Passolongo

Algum dia, chegarei a esse ponto sem retorno: 
o de querer desistir.
Mas, por enquanto, não...
que outros desistam de mim, aceito 
 com aquela filosofia de humildade 
e muita paciência que a vida me tem dado.
Porém, se recusar a mim mesma enfrentar o que vier, 
deixar de olhar o mundo pelos meus olhos 
e duvidar das minhas convicções e sentimentos, 
aí- o nada vale a pena 
instalar-se-á para sempre dentro de mim... 
e não merecerei mais viver.

quinta-feira, 28 de março de 2019

...nunca por nunca...


...nunca por nunca este dia foi considerado como feliz... 
e, contudo, hoje foi pleno, calmo, com boas notícias, 
sem desconforto...
...gracias à la vida...
que me há dado tanto...

terça-feira, 5 de março de 2019

"Lembrança"


Foi naquela tarde, 
 já distante...

Mas foi tão nítido e tão vivo, 
Amor! ,  o beijo que me deste, 
que não consegue ser saudade.


Flor cálida, vermelha flor tenrinha 
que nos lábios contentes me deixaste...


Triste já, o Outono se avizinha.

Só essa flor não quer tombar da haste...

Sebastião da Gama, in Cabo da Boa Esperança

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2019

folha ao vento



disseste não querer outra madrugada

... uma te bastou...

 foste cruel  ao pensá-lo...

e nem sonhas quanto
 ao
 dizê-lo.

verão seco

agora
num verão  arfante que sufoca flores
 e dores
lenta triste
surge a brisa
e
 mansa
 passa
acariciando os longos cabelos das árvores
sedentas de sol

devagar
vou-me despindo de ti...

e fico nua

[02.07.2013]

domingo, 3 de fevereiro de 2019

hipótese de ajuda?


não saberei chorar a partida
 ao longo de todo um ano
em que te ausentaste
 e tanto sofri....
talvez que o unir-me a ti em pensamento
toda essa energia enviada...
 tenha surgido  da vontade 
de te ajudar.

 conheci  o teu gosto pela fuga
nessa necessidade de - como menino travesso- 
  te esconderes...
 voltarás a fazê-lo;
 porém conheço também
a tua vontade de arreliar de provocar
 escondido nesse longe 
 onde buscas
 a perfeição
 sonhas sonhos
 sentes desejos 
e prossegues
 na contínua busca de tudo 
o que esperaste da vida.

    eu: sinto só o imenso cansaço de chorar;
de amar... não.

 in sophia -[02-07-2013]

sexta-feira, 25 de janeiro de 2019

entorpecimento ...


Quando dançou no dia 
em fuga à dor para entorpecer
tornou-a mais pesada 
e sem suporte;
qual borboleta tonta,
-ensandecida pela dúvida atroz do faz-de-conta-
 que alou 
ao tentar eclipsar o sol


ergueu-se  depois  penosamente
e sem mentiras
tentando vislumbrar sorrisos
num horizonte fugidio
onde o fogo brilhou

queimou de novo as asas
 no voo...
... despertou

por fim
pela dança entorpecida
a dor  lá acalmou.

Mais uma história de borboleta que dançou...

quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

Encantamento...


Encantar-se é um acto de sensibilidade
e também de inteligência 
porque não nos encantamos com uma criança birrenta...
mas amamos o doce azul de um céu luminoso
em qualquer estação:
 a frágil beleza da flor
ou o sorriso de tudo que seja para nós amor...

e assim vamos levando a vida
talvez não a mais apetecida
mas a que nos dá ânimo
para vivermos
 bem e em paz
 a cada dia
menosprezando a dor.


segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

humidade salgada...


devagar, devagarinho, à flor do teu rosto
 aflui uma humildade salgada
*
dos olhos apagou-se-te o fogo
 da alma a esperança
*
se a bonança foi ilusão
(nunca chegou)
para quê o choro?
*

foste criança maltratada
que nem sempre conheceu
as razões da sua punição
e se revolta ainda ao saber-se injustiçada
sem vislumbrar perdão para a travessura
*
sentir-se injustamente condenada
foi a maior tortura
*
assim correu a vida...
à partida, dizem que o tempo tudo cura
à excepção da mágoa
culpa da injustiça
do egoísmo
ou da desventura


quarta-feira, 2 de janeiro de 2019

Buracos


Abro  e teço buracos 
no tempo da memória...

vejo através...

...que encontro afinal?

...nem ausência 
nem saudade
nem esperança
nem luz.

Apenas um vago e angustiado eu.

terça-feira, 1 de janeiro de 2019

No rescaldo do tempo

Confidenciou à noite escura e fria
As profundas razões do seu temor
Ao ver em si esse anjo que temia
E o arrastou consigo para a dor.

No rescaldo obsessivo de um cansaço,
Sentida a perda, a mente ensandecida, 
Algo surgiu de estranho, como um laço
E que ligou à sua uma outra vida.


Num tempo longo de luto compungido
Tecido por dúvidas vãs  a esbater 
Em estádios de silêncio entristecido,


Se foi espraiando o torpe desengano 
Enleado no lento entardecer,
Laço frágil, mas firme, de ano em ano.

M. Silva

Uma «chanson morte»... de Fernando Pessoa

Canção III:

 Amais-me vós um pouco? Em sonhos.
Não é amor...

Um nada... O amor que chega ao fim
É doloroso.

Fazei de mim aquele que vos ama,
Não quem eu sou.
Quando o sonho é lindo, até o dia
Sorri.

Quer eu seja triste ou feio - é a sombra...
Para que o dia
Vos seja fresco, fiz-me para vós
Esta  sombra.



* O texto acima é tradução livre do seguinte poema de Fernando Pessoa:

Si vous m' aimez un peu? Par rêve.
Non par amour...

Un rien... L' amour que l' on achève
Est lourd.

Faites de moi un qui vous aime,
Pas qui je suis.
Quand le rêve est beau, le jour même
Sourit.

Que je sois triste ou laid - c' est l' ombre...
Pour que le jour
Vous soit frais, je vous fais ce sombre
Séjour.

domingo, 30 de dezembro de 2018

Inveja...

Não sou capaz de aquecer a madrugada 
Meu corpo cansou, perdeu calor.
Se saio para a noite sinto-me gelada
 Se venho até ti é por um bem maior.


 As melodias da noite enluarada
Negam ilusões de te guardar comigo.
Um só sonho, em meiga luz velada,
Na certeza de um sentimento amigo



Contudo,  ao  olhar o céu ignaro,
Nuvens e sombras pairam lá no alto
A frustrar, negando, um amor claro;


Enfrentar o destino, o tempo, a vida
Causou inveja aos deuses, que, de assalto,
Tentaram manobrar a despedida.


sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

Sol gelado....

Sol luminoso que o vento gela 
e nos flagela 
 espanto de cor 
depois dos cinzentos baços
de todo um dia de pesadas névoas 

saída para o sol de inverno
onde toda eu me arrepio...  
 pássaro que sofre no sol 
quando o vento sopra hirto 
das montanhas de neve 
 eriço também as minhas penas
e o frio
não consegue aquecer-mas...


era para sair ao teu encontro 
mas já não fui 
com medo de encontrar-te...

era para te escrever 
mas não escrevi
porque a mão me doía 
(artrite - dizem]

era para abraçar-te
e ao mundo
mas não fui capaz
(bursite - alvitram)

não sei quantos mais -ites
advirão 
mas não esperarei por ti,
 não 


Contudo, se saíres antes de mim
acautela-te da chuva
e das névoas inimigas
dum sol que já não vemos 
mas está ...

M.Silva





sábado, 15 de dezembro de 2018

Gaivota em terra


Outrora sentia a força do mar
em tempestade
e um desejo imenso de infinito
*

Esse  mar desgastou-se
persistente  e louco
incessante e duro
contra os rochedos
...
os encantos da praia
viraram crude
 negro como tição




Gaivota em terra
 sou...
frustrada
fatigada
enrouquecida
alongada do mar infindo
e misterioso
sem asas para me elevar
por sobre as vagas
saudosa de pisar os areais humedecidos
leitos de seixos e conchas nacaradas
trazidas pelas ondas...
cansadas das lides do mar..

quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

Um chá amargo...



[25-05-2015]


há uma ferida íntima
que sangrou
depois sarou
ao acaso dos dias....
e, de vez em quando.
dói
sempre a fogo lento
para a não esquecer...













assim como um chá
que se quis quente
e esfriou.... 
amargo porque 
frio...
essa é a sensação
de  gelado amargor
que a mim se colou
e ficou...

... servir  bem o chá
 alguém descuidou...

sábado, 1 de dezembro de 2018

Exploração...


                                  

- Sabes?...
... O mundo lá fora
é um lugar cruel.

... às vezes...

Ah, 
como 
dói 
viver
quando 
falta
a esperança!

                        Manuel Bandeira

...às vezes
 esqueço-me de sofrer
de sentir o frio
de sentir o calor 
de sentir a saudade
de sentir a distância
e até de sentir- 
tout court 
- o conforto

é que
... às vezes...
esqueço-me
de viver.

sábado, 20 de outubro de 2018

Ter vivido... viver ainda

Silêncio, desamor, incompreensão e lágrimas
*foram na vida o que mais colhi

*Espinhos acerados de roseira
*as picadas que mais senti

*Por isso as minhas mãos mostram as marcas
*de tudo o que sofri


*As minhas faces, hidratadas pelo choro,
* espelho claro de tudo o que vivi.

*E quando  - e se - a saudade bate à porta 
*pouco ou nada já importa 
*por vos saber, 
*por te sentir,
* aí.