domingo, 9 de março de 2014

Desesperança...


                                                                                                [ 16.06.89, pelas 11:45 ]
«Vindo a caminho da escola, senti , num frémito repentino, que os jovens me pegaram a sua doença espiritual: a falta de esperança.
Não  a sentem e é a razão pela qual vivem apenas o momento que passa querendo agarrar o instante. Eu limito-me, desesperançada, a deixá-lo passar.
Porém é esta doença profunda que me rói como um velho cancro.
Fazer obra? Para quê?
Projectar um futuro? Que futuro?
É a voz do desespero a falar.
Perdi as minhas muitas certezas.
Hoje ... não tenho certeza de nada.
Einstein e a sua teoria do relativo revolucionou o modo de pensar o mundo, mas penso que o tornou bem mais infeliz...
...Que raio de vida!»

sexta-feira, 7 de março de 2014

Colando cacos...


Numa nesga de azul
colei os muitos cacos
 de passadas lembranças
e havia um sol curioso
e finalmente radioso
que espreitava da janela.

Fora
na líquida claridade do dia
 vida acontecia.

Colar cacos
é reinventar agonia.

domingo, 2 de março de 2014

Fazer coisas...


Para esquecer a vida
fiz coisas:
acariciei com mãos vazias 
de interesses mesquinhos
 flores, frutos, palpei dores
até aprender a ver no outro
o inimigo pronto ao ataque pelo prazer de atacar.
Assim perdida foi a inocência...
Fazer coisas nem foi tanto esquecer de viver
ou da vida não lembrar:
só foi esquecer de chorar.

Mara

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Chuva...


Cai grossa a chuva 
ora lenta 
ora  veloz 
com os açoites do vento.

Fraca  é a força de elevar o pensamento
 e o fazer voar...
Jaz agarrado à terra
 com as pétalas da rosa
que floriu sem primavera ...

Há um coração cheio de ruídos-
-retalhos chãos que aproveito 
e me levam a pensar
assustadoramente
numa manta rota de dias por passar.

E nos ouvidos endurecidos pela angústia
sinto o som rouco da chuva a vibrar.

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Bola de sabão...


Eram momentos de sonho que reflectiam coisas
e uma nesga de céu
Era só uma nesga de azul
confundida com água
numa mistura de sabão

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Pasmado coração...


Mais um ano;
mais um  mês;
uma nova semana;
 um outro dia 
 me são concedidos
no meu percurso humano.
A cada hora,
 a cada decisão,
  escrevo a história desse percurso:
  tem o peso do passado
e as limitações de uma personalidade magoada
pelas dores do corpo e do espírito.

Coisas e pessoas estão à minha volta:
rostos amigos e mãos desconhecidas
chegam até mim.
Pedir-me-ão um sorriso,
talvez ajuda,
um pouco do meu tempo,
um retalho breve da minha vida.

E a vida - o que é?
Que representa para eles, para mim?...
...Se há nela tanta dor,
tanto mistério?...

Preciso afugentar angústias
e abrir os olhos pasmados
como menino que olha 
o imenso mar rolando sobre a areia
se brinca na praia...
 Dele receia, 
mas aprende a conhecer
 o amor que o rodeia 
se as mãos que o prendem 
são suaves, leais e formosas
quando seguem seus passos ligeiros
 ainda vacilantes,
 com ternura ansiosa.
O menino  guardará delas então
a mais bela imagem,
o mais belo perfume,
nos escaninhos secretos
do seu virgem coração.

Um menino pasmado...
era assim meu coração.

[Algures... - 2006]







terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Flor de amendoeira...


Houve tempo em que me queixei da vida...
por mal saber que havia flores.


Como amendoeira que floresce com os primeiros calores do ano que mal nasceu ,
um sopro de confiança faz com que floresçam de novo os desertos do coração.
Alentado por este sopro...  desejará aliviar a dor e as duras provas sofridas.
Mas serão precisas abelhas... 

[II.00.VI]