quarta-feira, 9 de julho de 2014

Onde? Quando? Como?...


Nunca sei onde estás. Nunca soube.
 Ou com quem.
Conheço-te um pouca a alma
E pouco mais.
Pouco sei ou soube sempre de ti.
Contudo amei-te até ao exagero
 Como o sonho que sempre se adia
Por se saber irreal.
Anos decorreram...
 De menina apaixonada passei
A mulher amargurada e reticente.
Sem me importar?...Não, sofrendo.
Contudo a tua presença em mim
Resistiu e resiste segura.
Os dias correram, sucedem-se 
E nada apaga a ternura...
Assim sendo, 
Não sei que poderás querer mais de mim,
teimosa criatura!

Rosa Xavier


domingo, 6 de julho de 2014

Metamorfose...


mal saída do casulo
 a borboleta dança de alegria
num hino à vida, 
num hino ao amor
de que em breve fará o luto.

não lembrada que rastejou, engordou, conheceu o escuro
metamorfoseada em beleza, em leveza,
 libera agora as asas macias no prazer do sol
no desejo de dar vida e cor a novas flores e amores.
e nesse céu brilhante e azul 
onde as escassas e algodoadas nuvens
  não aprenderam a chorar desilusões
e apenas são promessa remota de frescura
e doçura,
a borboleta volátil e tonta
agarra o momento
saciando o prazer enamorado
de sugar o néctar da mais bela flor.

o amanhã? não existe.
filosofar, pensar, pesar, angustiar...
é um fado triste
que não lhe adianta cantar.

domingo, 1 de junho de 2014

Ternura...


Criança...te amo!
Daqui te envio gesto-beijo de ternura
melodia anónima que rescende da terra
sob o sol criador...
Contínua  dádiva de vida
 simples oferta comovida
da natureza-mãe da criatura.


Porém...gosto muito
 também
 de malmequeres!

terça-feira, 15 de abril de 2014

Nocturno momento...


Naquela noite...
dum dezembro álgido
e vento cortante,
 alguém falou
falsamente denunciou
chalaceou...
chicoteou...

Naquela noite,
o ódio entranhado da máfia
 atacou
         enlameou...

Fez-se silêncio.

Foi também naquela noite,
que alguém te virou as costas...
e chorou.

sexta-feira, 28 de março de 2014

Águas que correm...


corres dentro de mim 
ora em regato borbulhante de água pura
ora como veneno de dúvidas e segredos
e se 
em tempos de prosa - razão
a dor existe mais aguda
e é mais cruel ainda
ouve-se um choro silencioso de lágrimas
frias
 sentidas
ou de um pranto sem lágrimas
 de si esquecidas
 humidade  seca
que escorre de paredes exangues
de angústia e silêncio

fantasmas alvacentos do passado 
convivem com o hoje e agigantam-se
 resultado de densos véus 
que as minhas mãos foram tecendo
e perdendo
ao longo dum tempo calado e frio
contra um fundo vagamente musical
de silêncio e solidão. 

Manuel Maria

quarta-feira, 26 de março de 2014

Voz do vento...


Havia vento...
O ar embalsamado das fragâncias do alecrim
trazia em tropel recordações de formas,
 de sons... de iridicências
na voz louca e primaveril do vento forte,
 na brevidade morna da tarde que caía ...
no sol de ocaso que ainda abraçava o dia
ou na chuva da véspera que molhara o chão,
ou na macieza do leito
 em que descansara os ossos macerados da labuta do dia.
Era aí que caía nos meus braços a reconhecida ternura 
que ficara comigo.
E aí perdura.
***
Aqui vacilo... nunca sei o que fazer.
Diz-me, se sabes: 
- Que fazer de tanto amor-ternura
congelado pelo tempo em recordações?

Myrna

quarta-feira, 19 de março de 2014

Apenas...não sabia...


Dormia.
Esquecida do mundo, de mim...
dormia.

Havia sol e vida e primavera
 - e não sabia.

Desaprendera de saber.