terça-feira, 31 de outubro de 2017

Ventania...


açoitada pela ventania
a velha árvore vergava
estremecia
quebrava
caía...
 oculta a raíz
em agonia

no ocaso
um incêndio de sonhos
esmaecia.

segunda-feira, 30 de outubro de 2017

Indícios outonais...


Leio em  muitas entrelinhas 
 mentiras enganosas 
e por vezes duvido
 se algum dia foi verdade
 o abraço e o carinho 
ou o deslaço
que depois desfaço
no pisar do caminho.


O que (te) dizem os meus olhos? ...


Os meus olhos,
Apagados, ausentes,
São lagos de ilusões desfeitas.


domingo, 20 de agosto de 2017

Desistir? Não, nunca desistir!


Desistir? Não, nunca desistas!
Nem de ti, nem de quem foste, és e acreditas. 
Descansa só um pouco e retoma a caminhada. 



Se deixares morrer dentro de ti 
Tudo em que de melhor acreditaste
Começas a fenecer  devagarinho
E o teu abraço caloroso, de carinho,
Passa a ser fraco, lasso 
E, muito devagarinho, 
Surge mais e mais a descrença no áspero caminho.


Pode ser duro suportar as agruras da jornada
E encarar o outro com esse brilho no olhar
Onde se lê crueldade e a vontade de rever  
Tudo o que nos choca e retira o gosto de lutar...

 

Descansar do sofrimento é como um inverno nos dias: 
Repouso, frio, tempestades duras que custam suportar... 
Mas a saída da vida também tem que se ganhar 
Ou de nada valeu ter percorrido a longa estrada... 
Sem  ter aprendido o amor, a dor, a verdade, 
Ou saber conhecer num outro sinceridade;
E tentar amadurecer, com a razão bem desperta, 
As emoções de um tempo de muita juventude 
Em que se viveu a aventura em plena liberdade. 

Toda a promessa de vida devia  ser cumprida
Com percalços, desvios, emotiva saudade 
Por que o que resta é um ser único, diferente, 
Que chora, pensa, sorri e age 
Na estrutura estranha e melancólica dos dias.


E o tempo passa...não pára...vai passando...

Mas desistir?... Não. 
E nunca, por vontade!







domingo, 13 de agosto de 2017

Não sei porquê...



                           Emile Munier                             

  não sei porquê...mexi contigo
e o meu desgosto esteve 
na dúvida de não ter entendido
o real e estranho motivo ...

reconheço-me na criança solitária
sedenta de ternura e compaixão
que encontra entre bichos e plantas 
aquilo que os outros não lhe dão...

Emile Munier

tu ,que julgas conhecer-me,
não o conseguirás se não despires 
a carapaça grosseira  
do conhecimento que tens ou te ficou 
 da humanidade com quem te cruzaste 
 em ruas e salões que frequentaste


 Chantal Poulin

 sou flor bravia, sou a brisa livre 
que vai passando e, se pode,
acalentando...


e ao fazer caminho ainda nesta estrada
não é jogo a jogar com gente estranha 
mas sentir quão tamanha
é a sede de saber, e amar, e ser
que ainda me move.

domingo, 16 de julho de 2017

Praias com e sem gente...


Não sei se ainda há praias desertas
Onde aves selvagens fazem ninhos
Onde céu e mar se confundem ao sol-por
E o mar a marulhar soa mansinho.


 Não sei se há ainda areias brancas
Onde se pisa sem olhar o chão
Na certeza de afundar os nossos passos
Sem o perigo de encontrar poluição.



O que conheço hoje das praias ao calor 
É o enxame de multidões  em confusão
Corpos em chama temendo a combustão
E gritos e cerveja e ralhos em surdina. 



A praia não é já o sítio de eleição 
Onde se esperava que a maré subisse 
Para que corpo e alma em comunhão
Exorcizassem doenças e chatices.



...Sei que o fim da tarde chamava à oração
Quando sol e horizonte se beijavam 
Como amantes separados pelo verão 
E sequiosos um do outro se deitavam.

Guardava-se o silêncio e o respeito
Que a doçura do momento apetecia
E via-se o dia acabar do mesmo jeito
Com que cada um de nós adormecia.

***
Praias não são já locais do encanto 
Onde  paz e simpatia davam mãos 
 Só são ruído e cor que causa espanto 
E nos fazem desejar  ecos mais sãos.