domingo, 10 de dezembro de 2017

Tarte de morango...


serviu -te com o chá uma tarte de morangos: 
 grito de sereia 
para um deus desconhecido
sussurrando solidão e dor

qual borboleta atraída por rosa emurchecida
quase desfalecida sob os calores do verão 
atraiu um amor de ocasião
- só que não era então amor,
 mas sim loucura, 
desejo intenso e são de criatura 
 de há muito e sempre recusado 
como perigoso, desnecessário e vão

de longe morta para a vida
perscrutou-te a alma
e reacendeu a sua 
ao som  de um timbre vocal
em que a letra da canção tinha magia

brotou a paixão e o encantamento...
- como seria?...
- que mistério encobria?...

por fim, nada importava mais:
não conhecia os seus olhos,
apenas o que lhe chegara em melodia
e  tudo o resto, fosse o que fosse, era p'ra amar.



assim vai passando a vida
aquecida ao sabor do momento
até que o passamento
enterre na chaga do tempo 
a vontade imperecível de o sonhar.

terça-feira, 31 de outubro de 2017

Ventania...


açoitada pela ventania
a velha árvore vergava
estremecia
quebrava
caía...
 oculta a raíz
em agonia

no ocaso
um incêndio de sonhos
esmaecia.

segunda-feira, 30 de outubro de 2017

Indícios outonais...


Leio em  muitas entrelinhas 
 mentiras enganosas 
e por vezes duvido
 se algum dia foi verdade
 o abraço e o carinho 
ou o deslaço
que depois desfaço
no pisar do caminho.


O que (te) dizem os meus olhos? ...


Os meus olhos,
Apagados, ausentes,
São lagos de ilusões desfeitas.


domingo, 20 de agosto de 2017

Desistir? Não, nunca desistir!


Desistir? Não, nunca desistas!
Nem de ti, nem de quem foste, és e acreditas. 
Descansa só um pouco e retoma a caminhada. 



Se deixares morrer dentro de ti 
Tudo em que de melhor acreditaste
Começas a fenecer  devagarinho
E o teu abraço caloroso, de carinho,
Passa a ser fraco, lasso 
E, muito devagarinho, 
Surge mais e mais a descrença no áspero caminho.


Pode ser duro suportar as agruras da jornada
E encarar o outro com esse brilho no olhar
Onde se lê crueldade e a vontade de rever  
Tudo o que nos choca e retira o gosto de lutar...

 

Descansar do sofrimento é como um inverno nos dias: 
Repouso, frio, tempestades duras que custam suportar... 
Mas a saída da vida também tem que se ganhar 
Ou de nada valeu ter percorrido a longa estrada... 
Sem  ter aprendido o amor, a dor, a verdade, 
Ou saber conhecer num outro sinceridade;
E tentar amadurecer, com a razão bem desperta, 
As emoções de um tempo de muita juventude 
Em que se viveu a aventura em plena liberdade. 

Toda a promessa de vida devia  ser cumprida
Com percalços, desvios, emotiva saudade 
Por que o que resta é um ser único, diferente, 
Que chora, pensa, sorri e age 
Na estrutura estranha e melancólica dos dias.


E o tempo passa...não pára...vai passando...

Mas desistir?... Não. 
E nunca, por vontade!







domingo, 13 de agosto de 2017

Não sei porquê...



                           Emile Munier                             

  não sei porquê...mexi contigo
e o meu desgosto esteve 
na dúvida de não ter entendido
o real e estranho motivo ...

reconheço-me na criança solitária
sedenta de ternura e compaixão
que encontra entre bichos e plantas 
aquilo que os outros não lhe dão...

Emile Munier

tu ,que julgas conhecer-me,
não o conseguirás se não despires 
a carapaça grosseira  
do conhecimento que tens ou te ficou 
 da humanidade com quem te cruzaste 
 em ruas e salões que frequentaste


 Chantal Poulin

 sou flor bravia, sou a brisa livre 
que vai passando e, se pode,
acalentando...


e ao fazer caminho ainda nesta estrada
não é jogo a jogar com gente estranha 
mas sentir quão tamanha
é a sede de saber, e amar, e ser
que ainda me move.