Mais um ano;
mais um mês;
uma nova semana;
um outro dia
me são concedidos
no meu percurso humano.
A cada hora,
a cada decisão,
escrevo a história desse percurso:
tem o peso do passado
e as limitações de uma personalidade magoada
pelas dores do corpo e do espírito.
Coisas e pessoas estão à minha volta:
rostos amigos e mãos desconhecidas
chegam até mim.
Pedir-me-ão um sorriso,
talvez ajuda,
um pouco do meu tempo,
um retalho breve da minha vida.
E a vida - o que é?
Que representa para eles, para mim?...
...Se há nela tanta dor,
tanto mistério?...
Preciso afugentar angústias
e abrir os olhos pasmados
como menino que olha
o imenso mar rolando sobre a areia
se brinca na praia...
Dele receia,
mas aprende a conhecer
o amor que o rodeia
se as mãos que o prendem
são suaves, leais e formosas
quando seguem seus passos ligeiros
ainda vacilantes,
com ternura ansiosa.
O menino guardará delas então
a mais bela imagem,
o mais belo perfume,
nos escaninhos secretos
do seu virgem coração.
Um menino pasmado...
era assim meu coração.
[Algures... - 2006]