Não sei se ainda há praias desertas
Onde aves selvagens fazem ninhos
Onde céu e mar se confundem ao sol-por
E o mar a marulhar soa mansinho.
Não sei se há ainda areias brancas
Onde se pisa sem olhar o chão
Na certeza de afundar os nossos passos
Sem o perigo de encontrar poluição.
O que conheço hoje das praias ao calor
É o enxame de multidões em confusão
Corpos em chama temendo a combustão
E gritos e cerveja e ralhos em surdina.
A praia não é já o sítio de eleição
Onde se esperava que a maré subisse
Para que corpo e alma em comunhão
Exorcizassem doenças e chatices.
...Sei que o fim da tarde chamava à oração
Quando sol e horizonte se beijavam
Como amantes separados pelo verão
E sequiosos um do outro se deitavam.
Guardava-se o silêncio e o respeito
Que a doçura do momento apetecia
E via-se o dia acabar do mesmo jeito
Com que cada um de nós adormecia.
***
Praias não são já locais do encanto
Onde paz e simpatia davam mãos
Só são ruído e cor que causa espanto
E nos fazem desejar ecos mais sãos.