sexta-feira, 30 de junho de 2017

Essência de vida...



- senti-te na rama dos pinheiros


-  na intensidade de uma onda


-  na nitidez de um golpe de sol


... embalei longamente nos meus braços
as tuas revoltas e cansaços... 
 desvelei-me em carícias
pelas noites cálidas de verão; 
guardei comigo os teus longos silêncios
que falavam do outono da vida; 
 na primavera, renovei a alegria
nos límpidos espaços...
e as minhas orações foram sempre carícias
que julguei enviar-te em palavras  
que quis belas, sem te embaraçar...
Só hoje percebi que sempre estiveste  lá
e eu não te vi...
foi pouco a pouco que a conhecer-te aprendi...
nem sempre na hora, porém;
muitas vezes, vi-me eu também a criar distância,
mas regressava...
Não pensei na vida,
nem me interessava a morte -  
-  só a essência da vida
que procurara em vão
até chegar a ti.

[02.10.2011], in Páginas de um diário encontrado

sexta-feira, 23 de junho de 2017

Carta ao mal amado...



Não sou já flor de primavera


tão pouco papoula que dança ao vento de verão


ou baga sangrando, fruto da canícula...



Não, nada disso já sou.

O que ainda sou...já não sei bem.
Mas sei que metade de mim 
de há longo tempo para cá 
se habituou a existir 
porque existes 
e a vida é mais leve
porque sei que estás aí...
nunca soube bem onde:
nas agruras do tempo
no ocaso de mim
ou talvez, enfim,
na poluição das vozes
ou na confusão do silêncio.


E eu...
mesmo que o não pareça
apesar de tudo que aconteça
estou e estarei
aqui.