sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019

Não serão perfeitos...


...mas são amores 
e anunciam que
 a primavera não tarda
 e encherá , de novo, 
os nossos olhos
com as maravilhas costumadas 
de cores, de formas ousadas...


... pode ser, então, 
que as palavras  já tão gastas 
emerjam 
novas e belas...,
corajosas,
brancas, azuis, amarelas,
e roubem beleza às rosas 
para encanto e melodia  
das almas dos  poetas

Variações sobre cantares de D. Dinis


Ramo verde florido, 
florido de bela flor,
do meu amor tão querido,
onde está o meu amor?
Diz-me aonde ele está,
aonde está o meu amor,
p'ra que eu buscá-lo vá
florido de bela flor.

Ramo verde tão querido,
tão querido do meu amor,
de belas flores florido,
florido de bela flor...

... Diz-me aonde ele está,
florido de bela flor,
p'ra que eu buscá-lo vá
aonde ele está, o meu amor.

Ramo verde florido, 
florido de bela flor, 
do meu amor tão querido,
tão querido do meu amor.

[1938/05/17]-------------Jorge de Sena, in 40 anos de servidão









segunda-feira, 4 de fevereiro de 2019

sobreviver

[2013.05.12]
que comigo ninguém se preocupe: 
sobrevivo.
melancólica
ansiosa
mas sempre fui sobrevivendo.

interessada no quotidiano
olhando a vida com olhos abertos
e coração afoito 
num mundo ilusório e torturado
onde nunca me consegui encaixar em lado algum;
um alguém que também cedo aprendeu a respeitar a morte. 
 e combates sobre combates
se foram sucedendo
mas não os teus.

consciente gosto de ajudar;
- ajudar é um acto de amor empenhado
 para dar a ideia ilusória
dum pequeno triunfo sobre a vida;
e sei que nunca vou aprender a dizer 
 não.


mordaça...


ano após ano
redimi sonhos 
sufoquei soluções
tiranizei desejos; 
 para eles não havia
esperança nem voz.

 cravaste depois na minha alma
a flecha do encanto
e tudo mudou...

dum animal em cio 
surgiu uma criança
que volveu menina
e se tornou mulher;
deve ter sido este 
 o importante papel
tão bem desempenhado:
fechar num círculo de palavras
a minha vida de mulher. 

[2013-06-22]


ao cair da névoa...


depois de descer a névoa sobre a ausência
terrível foi a sensação do desamparo
 razão de funda dor desgarrada
liquefeita sobre o chão marmóreo
da pele emurchecida
em gotículas geladas
à luz iridescentes
fluindo
sem consolo e sem destino
num sufoco de aflicção
interminável
contínuo

com indiferente incompreensão
pode pedir-se perdão...
 ficar-se legitimado....

perdoa sempre quem ama.
mas aí...
só se sabe que se  sofreu
e  se chorou em vão.

[22.06.2013]

folha ao vento



disseste não querer outra madrugada

... uma te bastou...

 foste cruel  ao pensá-lo...

e nem sonhas quanto
 ao
 dizê-lo.

verão seco

agora
num verão  arfante que sufoca flores
 e dores
lenta triste
surge a brisa
e
 mansa
 passa
acariciando os longos cabelos das árvores
sedentas de sol

devagar
vou-me despindo de ti...

e fico nua

[02.07.2013]

domingo, 3 de fevereiro de 2019

hipótese de ajuda?


não saberei chorar a partida
 ao longo de todo um ano
em que te ausentaste
 e tanto sofri....
talvez que o unir-me a ti em pensamento
toda essa energia enviada...
 tenha surgido  da vontade 
de te ajudar.

 conheci  o teu gosto pela fuga
nessa necessidade de - como menino travesso- 
  te esconderes...
 voltarás a fazê-lo;
 porém conheço também
a tua vontade de arreliar de provocar
 escondido nesse longe 
 onde buscas
 a perfeição
 sonhas sonhos
 sentes desejos 
e prossegues
 na contínua busca de tudo 
o que esperaste da vida.

    eu: sinto só o imenso cansaço de chorar;
de amar... não.

 in sophia -[02-07-2013]