dia de outono de névoas e sombras 
um ar parado 
na angústia das coisas que não foram
lágrimas em gotas grossas 
  chuva insistente
onde não cabem silêncios nem poemas 
nem subentendidos mistérios gotejando 
e empurrados pelo vento...
Lá fora, só cai a chuva.
soturnamente alagando tudo
braços entrelaçados de árvores
suplicando na humidade cinza
buscam refúgios impossíveis
na imaterialidade suja do dia enevoado
Se parar a chuva, a neve 
 não terá já brancuras de linho 
e desfar-se-á em manchas lodosas
no chão  pisado  por muitos passos
onde de há muito folhas apodrecem.
um ciclo enevoado de escuridão e frio
sela  doridamente a natureza 
que o sol flagelou impiedoso...
consternadas, as plantas inclinam com pesar
as hastes lacrimosas
por detrás da janela
fixo nos pequenos espelhos de água parada
uns vislumbres de luz
 não vejo gente... mas sombras
de uma humanidade insana,
tantas e tantas vezes cruel,
que se rege pelos pés...
e nelas transluz.


