terça-feira, 15 de maio de 2012

Não sabes...


Tu não sabes, porque eu não te disse,
que te espero sempre
Que atravesses a ponte para me encontrar
aqui, do lado de cá do tempo,
do lado de cá do mar
Que combatas a minha progressiva vontade
 de me ensimesmar
e a minha proverbial fraqueza de ser tímido
e cheio de vergonhas
mas nunca por te amar
Tento às cegas respeitar o teu sentir
e quantas vezes me feriu o teu riso fácil
ou a tua habitual mordacidade
que tanto se inspira na realidade
E também sei que te quero
num todo indecifrável e de contorno eterno
e por isso sempre te espero na volta do caminho
nem que seja para te sorrir com carinho
nem que seja só p'ra te dizer: olá!
 Em mim são mera aparência frieza ou lassidão
 porque se tenho um sonho
será  o de voltar a encontrar-te algures
...numa longínqua imensidão.
Já fui de arroubos e ansiedades 
mimos,  e infantil exaltação...
Ao contacto com essa tua fria razão
 tudo isso mataste em mim,
tudo deitaste ao chão...
Hoje sou quase cadáver... na emoção.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Força crepuscular...


Na madrugada vagamente fria
a força do vento tem a força do mar
de marés vivas de escarpadas ondas
anteontem enoveladas ao luar...
Cordas de vento batem na vidraça
e eu sinto-me vazia e sem fervor
e calo mansamente os meus sentidos
ao ouvir  das rajadas o estertor...
Limpo-os da dor, da espera, da aflição,
evitando tão só lamentos e gemidos
decerto sepultados entre o rumor
 indiferente, que é, à silenciosa dor
que castiga sem trégua os mal-nascidos.

15.05.2011

sábado, 31 de março de 2012

Integridade...


No amor
No silêncio
Na dor
Eu dou-me inteira
Como se fora única
Efémera
E derradeira
A hora.

Se num lamento maior
Visitar 
Os arredores da dor
É ainda de amor
Um gesto...
Que esquecimento
Ou desespero molesto
É algo bem pior.


segunda-feira, 26 de março de 2012

Detalhes...


As coisas simples da vida
não são detalhes:
são a sua essência

Teorias e fantasmas
podem ser razão
ou imaginação...
mas há flores com olhos
que fitam o sol
sem cegarem...
São inocência
São gratidão.

domingo, 25 de março de 2012

Não é tempo de rosas...


Não é tempo de rosas
nem vai alta a Primavera

Lembranças impiedosas 
perdem vontade de viver
como quimera a esmorecer

Eram formosas




Armadura...


Corpo fechado no silêncio da hora
Bruma eriçada do mais cruel horror
Espírito açaimado por incontrolada dor
Foi visão de massacre isenta de amor...

Calo o sensabor do momento vazio
Onde nada mais cabe que a tortura
E arrastarei na triste sepultura
Lamentos de melancolia e amargura
Para sempre enlaçados no meu corpo frio. 

sexta-feira, 23 de março de 2012

Anjo...


Não sou anjo...
 mas se tivesse asas
 embrulhava-te nelas
se estremecesses de frio
e procuraria libertar-te
da tristeza
 subindo contigo
em busca do arco-íris

E se fosses tu o meu anjo...
velaria pela tua paz
com muito carinho
e com a ternura dos meus gestos
ajeitava a tua almofada
para que descansasses
 a alma inquieta e sofredora
na palma da minha mão 
antes tão vazia...
Mas não sou anjo amor
não sou anjo, não...

 25.04.10