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sexta-feira, 1 de junho de 2018

Ser criança...


Hoje alguém perguntava a uma menininha o que achava ela o que fosse ser criança e, com muito à vontade, respondeu:
« ser criança é aprender muitas coisas».
Ao lado dela, um menino, sensivelmente da mesma idade, respondeu à mesma pergunta, dizendo:
«ser criança é divertir»... - assim, textualmente.
Fiquei a pensar nas duas respostas e senti-me ainda criança por me ter identificado com a primeira e muito idosa por não ser capaz de me rever na segunda. Contudo, ligando as duas, ainda sou capaz de me reconhecer enquanto menina, pois me divirto cada dia ao aprender coisas novas.
E enquanto assim me sentir, também este dia será sempre um pouco meu, mesmo quando aprendo que há crianças que, mercê da maldade do mundo ou de inclemências da natureza, estarão sempre longe de serem o futuro ideal para a humanidade de que todos fazemos parte.
Crianças raramente são os anjos que cria a nossa imaginação de adultos alheios a um estatuto de perfeição, ainda que para aquelas devessem sempre ser um bom exemplo a seguir. Mas quem se lembra de tal?...a começar por pais e professores?...

domingo, 27 de maio de 2018

Uma sem-razão...

 
agora é o tempo das flores mil*
da passarada que cruza os ares*
nos céus de anil *
dos ninhos escondidos com ovinhos*
de crias alimentadas sem descanso*
por pais obreiros*
 ansiosos,vigilantes ...**

da inusitada alegria de descobrir joaninhas*
de pretas pintinhas*
e de espreitar no frescor da manhã clara *
as primeiras rosas...**

de esperar em ânsias*
pelo desenrolar das saias vermelhas*
das papoulas *
para vê-las dançar ao vento*
sob um céu muito azul *
e um sol inclemente...**

é o tempo que prevê as tardes abrasadoras *
e os entardeceres cálidos, poeirentos *
seguidos das noites frescas e fragrantes *
que sussurram abraços*
arrepiando a pele*
estremecendo saudade...**
 
tudo isto é sentir-te num abrir de emoções *
que o costume da solidão me fez aprender contigo*
por teres ficado incólume nas minhas sensações *
na minha cabeça, no meu coração*
- não por hábito, *
não por devoção  -*
e sim na verdade ... de uma sem-razão.
 



segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

Conversar com a lua...


por vezes, ainda venho conversar com a lua
quando a noite se espraia no silêncio
e na distância de ti
 evoca o som de uma voz
que quase esqueci
 som perdido no espaço inerte
 de um tempo morno
de funda inquietação
que entrou como promessa efémera
e se concretizou no laço
de um terno abraço 
que não mais deslaçou

e de uma ou outra maneira 
a solidão quebrou 
e virou  fantasma
diluída no tempo da distãncia
que grita
para eu não te ouvir

mas nem o marulho das ondas
pode evitar que te ouça e reconheça
namorei com elas
falei-lhes de ti 
e prometeram afagar-me
com doçura
nos meus últimos dias



segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

Luminosidade...


[21/09/017]

a luminosidade do outono 
é carícia para os olhos
um doce alerta para todos os sentidos
que enleva, embala. abraça
com brandura
e carinho




   presa da vida
 como agora estou
 passeio a alma no outono
para me sentir morrer 
leve 
suave 
e lentamente
em cada despedida
de mais um fim do dia





sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

Positivismo...



Positiva e franca
Observo e medito...
Quase nunca creio em tudo  que pressinto... 
E difícil é render-me à imaginação.

***
Não me poupes...não sou maoquista
mas não gosto de sofrer
Habituada fui a cair e logo levantar
E a só chorar
no ângulo fechado dos meus braços
Se algum dia deparei com um ombro amigo
decerto o repeli
para deixar correr no escuro
lágrimas frias ou escaldantes
mas silenciosas
que escorreram livres como rios de alma 
sempre na direcção do mar.

Não me poupes, nem te culpes
nada prometeste
e pouco te pedi
É belo o arco-íris, mas nunca sonhei alcançá-lo.
Enovelada no meu casulo de memórias
enfrento o que há-de vir
e  sempre fui contigo aprendendo 
a cada dia
recusando a agonia
 por não mais te poder ver 
na realidade 
do nosso pouco
 ou muito
 tempo
p'ra viver.

V//  [ 20/09/017]

terça-feira, 31 de outubro de 2017

Ventania...


açoitada pela ventania
a velha árvore vergava
estremecia
quebrava
caía...
 oculta a raíz
em agonia

no ocaso
um incêndio de sonhos
esmaecia.

segunda-feira, 30 de outubro de 2017

Indícios outonais...


Leio em  muitas entrelinhas 
 mentiras enganosas 
e por vezes duvido
 se algum dia foi verdade
 o abraço e o carinho 
ou o deslaço
que depois desfaço
no pisar do caminho.


O que (te) dizem os meus olhos? ...


Os meus olhos,
Apagados, ausentes,
São lagos de ilusões desfeitas.


domingo, 13 de agosto de 2017

Não sei porquê...



                           Emile Munier                             

  não sei porquê...mexi contigo
e o meu desgosto esteve 
na dúvida de não ter entendido
o real e estranho motivo ...

reconheço-me na criança solitária
sedenta de ternura e compaixão
que encontra entre bichos e plantas 
aquilo que os outros não lhe dão...

Emile Munier

tu ,que julgas conhecer-me,
não o conseguirás se não despires 
a carapaça grosseira  
do conhecimento que tens ou te ficou 
 da humanidade com quem te cruzaste 
 em ruas e salões que frequentaste


 Chantal Poulin

 sou flor bravia, sou a brisa livre 
que vai passando e, se pode,
acalentando...


e ao fazer caminho ainda nesta estrada
não é jogo a jogar com gente estranha 
mas sentir quão tamanha
é a sede de saber, e amar, e ser
que ainda me move.

sexta-feira, 30 de junho de 2017

Essência de vida...



- senti-te na rama dos pinheiros


-  na intensidade de uma onda


-  na nitidez de um golpe de sol


... embalei longamente nos meus braços
as tuas revoltas e cansaços... 
 desvelei-me em carícias
pelas noites cálidas de verão; 
guardei comigo os teus longos silêncios
que falavam do outono da vida; 
 na primavera, renovei a alegria
nos límpidos espaços...
e as minhas orações foram sempre carícias
que julguei enviar-te em palavras  
que quis belas, sem te embaraçar...
Só hoje percebi que sempre estiveste  lá
e eu não te vi...
foi pouco a pouco que a conhecer-te aprendi...
nem sempre na hora, porém;
muitas vezes, vi-me eu também a criar distância,
mas regressava...
Não pensei na vida,
nem me interessava a morte -  
-  só a essência da vida
que procurara em vão
até chegar a ti.

[02.10.2011], in Páginas de um diário encontrado

sexta-feira, 23 de junho de 2017

Carta ao mal amado...



Não sou já flor de primavera


tão pouco papoula que dança ao vento de verão


ou baga sangrando, fruto da canícula...



Não, nada disso já sou.

O que ainda sou...já não sei bem.
Mas sei que metade de mim 
de há longo tempo para cá 
se habituou a existir 
porque existes 
e a vida é mais leve
porque sei que estás aí...
nunca soube bem onde:
nas agruras do tempo
no ocaso de mim
ou talvez, enfim,
na poluição das vozes
ou na confusão do silêncio.


E eu...
mesmo que o não pareça
apesar de tudo que aconteça
estou e estarei
aqui.


quinta-feira, 25 de maio de 2017

Sonhando impossíveis...

  
Gozo sonhado é gozo, ainda que em sonho.
Nós o que nos supomos nos fazemos,
Se com atenta mente
Resistirmos em crê-lo.
Não, pois, meu modo de pensar nas coisas,
Nos seres e no fado me consumo.


Para mim crio tanto
Quanto para mim crio.
Fora de mim, alheio ao em que penso,
O Fado cumpre-se. Porém eu me cumpro
Segundo o âmbito breve
Do que de meu me é dado.

[Fernando Pessoa, 30-01-1927/in Ficções do Interlúdio/ Odes de Ricardo Reis]

A felicidade construída...

Estás só. Ninguém o sabe. Cala e finge.
Mas finge sem fingimento.
Nada esperes que em ti já não exista,
Cada um consigo é triste.
Tens sol se há sol, ramos se ramos buscas,
Sorte se a sorte é dada.

[Fernando Pessoa /06-04-1933, in Ficções Do Interlúdio/ Odes de Ricardo Reis]


As nuvens são sombrias
Mas, nos lados do sul,
Um bocado de céu
É tristemente azul.

Assim , no pensamento,
Sem haver solução,
Há um bocado que lembra
Que existe o coração.

E esse bocado é que é
A verdade que está
A ser beleza eterna



[Fernando Pessoa-1931)


Já ouvi doze vezes dar a hora
No relógio que diz que é meio-dia
A toda a gente que aqui perto mora.
( O comentário é do Camões agora:)
"Tanto que espera! Tanto que confia!"
Como o nosso Camões, qualquer podia
Ter dito aquilo, até outrora.

E ainda é uma grande coisa a ironia.

[Fernando Pessoa, 08-03-1931]

A beleza do sonhar...


Se alma é o fogo num animal humano,



~Que papel desempenha a fogosidade da paixão
 num ambicionado sentimento de felicidade plena?



Reflectir beleza, 
respirar harmonias de sons pelos olhos e ouvidos, 
aspirar ao equilíbrio do ser,
tentar respeitar todo o ser na natureza  ... 
conduzir-nos-á à emoção sentida de uma felicidade consentida?... 


Pureza de intenções unida à sensação dúbia de uma liberdade assumida... será um outro caminho possível?...
Aguardam-se - impossíveis- respostas.

Sonhando...







[...]

Não foi para servos que nascemos
Da Grécia ou Roma ou de ninguém.
Tudo negamos e esquecemos;
Fomos para além.

[...]

Pessoa, Fernando in Quinto Império


domingo, 14 de maio de 2017

A extensão da linha da vida...


E se viver for apenas morrer segundo a lei universal? Ou, de acordo ainda com esta, se transformar? 
Nada se sabe, ou pouco.
 Que importância tem  então a fusão da energia cósmica, a evolução da energia no homem, outros animais, plantas,minerais e rochas, se nem sabemos se acontecem por um acaso ou se tudo já estava previsto desde a eternidade para cada um deles?
Observo uma linha de vida a escorregar suavemente na linha do pulso onde veias azuis se destacam na alvura rosada da pele, exemplo de vida activa, de momento isenta de contratempos ou ameaças, nessa leveza transparente de algo que se diluía num absurdo triângulo de dúvida: longa? Não longa? E que interessa isso se viver significa morrer segundo a tal lei universal?

 ... Lá no fundo, ter a consciência de que nada se sabe é a essência do apreender em permanência novas realidades e ser capaz de fantasiar sonhos irreais com a facilidade inocente da criança que escancara para a vida olhos curiosos ou encantados.
 Não tem de se sentir feliz ou infeliz, alegre ou triste, todo aquele que se confessa ignorante - apenas tem de se acostumar a olhar o mundo com esse inocente encantamento de quem nunca pediu para existir e sabe que existe para se diluir no nada como um qualquer outro ser...destino impreciso e inelutável da matéria que se repele e agita, se atrai e consome, se ama e odeia, diverge ou se associa...  se respeita ou devora para sobreviver.
 Todos estes actos e sentires existem mais ou menos conscientes nos variados seres  da criação, uns mais, outros menos carentes,uns mais, outros menos inocentes, outros ainda mais cientes das realidades do tempo vivido e do espaço ocupado.

Em laivos de cansaços,
Buscando conhecer
Miríades de seres
Ao longo dos milénios,
Silenciei.
.
Quis compreender
E não compreendi.
Chegou lento o sufoco...
Emudeci.
Sei que lutei, sofri, vivi...
E tudo o resto...é  nada.

sábado, 26 de novembro de 2016

Névoas, neve, chuva...



dia de outono de névoas e sombras 

um ar parado 
na angústia das coisas que não foram

lágrimas em gotas grossas 
  chuva insistente
onde não cabem silêncios nem poemas 
nem subentendidos mistérios gotejando 
e empurrados pelo vento...

Lá fora, só cai a chuva.
soturnamente alagando tudo

braços entrelaçados de árvores
suplicando na humidade cinza
buscam refúgios impossíveis
na imaterialidade suja do dia enevoado

Se parar a chuva, a neve 
 não terá já brancuras de linho 
e desfar-se-á em manchas lodosas
no chão  pisado  por muitos passos
onde de há muito folhas apodrecem.

um ciclo enevoado de escuridão e frio
sela  doridamente a natureza 
que o sol flagelou impiedoso...

consternadas, as plantas inclinam com pesar
as hastes lacrimosas



por detrás da janela
fixo nos pequenos espelhos de água parada
uns vislumbres de luz


 não vejo gente... mas sombras
de uma humanidade insana,
tantas e tantas vezes cruel,
que se rege pelos pés...
e nelas transluz.

terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Sonhos esparsos


Enterrei os sonhos num jardim escondido 
onde nunca entro para os visitar 
brancos de neve, encanecidos,  
perdida toda a força para os libertar .

Foram azuis um dia.
Com eles ri, sorri, depois chorei - 
- primavera e outono numa vida, 
geraram dor de prata encarecida 
de muito desalento e muita dor .


 Esparzi-os  em pétalas sem vida
embalados ao som de um violino
na música dolente e esmaecida
dum fim de tarde suave e purpurino.

msilva, [09.01.2016]

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Nas despedidas...


nas despedidas
há sempre um alguém que chora e sofre mais
com ou sem lágrimas vertidas
porque o toque de magia de um outro ser
originou emoções ensandecidas
carreadas em desejos de infinito 
num ruflar leve de asa de cetim...

depois a brisa sopra um subtil aroma 
engolido pela noite 
numa reminiscência vaga, muito vaga,
de esquecido jasmim