sábado, 20 de outubro de 2018

Ter vivido... viver ainda

Silêncio, desamor, incompreensão e lágrimas
*foram na vida o que mais colhi

*Espinhos acerados de roseira
*as picadas que mais senti

*Por isso as minhas mãos mostram as marcas
*de tudo o que sofri


*As minhas faces, hidratadas pelo choro,
* espelho claro de tudo o que vivi.

*E quando  - e se - a saudade bate à porta 
*pouco ou nada já importa 
*por vos saber, 
*por te sentir,
* aí. 




domingo, 7 de outubro de 2018

Longe...

Imagem de MarcoATGarcia

estou...
sou...
alongada no tempo
triturada na distância de mim
e - sempre mais eu- 
contudo sou

nada para ninguém
mas sou

não sonhando impossíveis
afastando possíveis
vou

 entranhadamente carente de infinito
ilustrando ou deslustrando horizontes 
a cada passo mais exíguos 
estou
a desarmar emoções
em sentir que o próximo anseio 
de toda a liberdade
será florir de amor
na imensidade
misturada ao pó iridescente
manto ténue de um olvido 
omnipresente.

Maria Silva

domingo, 26 de agosto de 2018

Calar e ser...


No céu vestido de azul, na tarde estival, 
 surgiu, a este, uma lua enorme e dourada 
que o sol de longe beijava 
num queixume derradeiro, quase agreste.

Tristemente senti-me encarcerada...


Outrora gostava de falar com a lua
sempre por ela estranhamente enamorada.
Hoje sinto a alucinação do tempo 
corroer todo o espaço ...
limitar-me por dentro. 

Perdidamente olho o espaço 
e nada me apetece,
 nem invejar a ave de aço 
que troando os céus escurece.

Também ela não conhece a liberdade...


Maria Silva

segunda-feira, 23 de julho de 2018

Irmã...


Irmã de dor e de miséria
do ser apegado ao dia-a-dia.
irmã presa ao fogo-fátuo de existir
no mundo imerso em ódios,contra-sensos e vícios
irmã que sofre, chora e dorme
sob as alfinetadas do que corre,
flui e dança
no cinzento a luz e ouro dum morno
e atávico viver...
a quem o desprezo e escárnio de outros
mal tocou...
por isso, te digo:
acorda! 
e ergue-te ! 
volta
à suprema alegria de te dares!

Maria - [26.03.93]

sexta-feira, 1 de junho de 2018

Ser criança...


Hoje alguém perguntava a uma menininha o que achava ela o que fosse ser criança e, com muito à vontade, respondeu:
« ser criança é aprender muitas coisas».
Ao lado dela, um menino, sensivelmente da mesma idade, respondeu à mesma pergunta, dizendo:
«ser criança é divertir»... - assim, textualmente.
Fiquei a pensar nas duas respostas e senti-me ainda criança por me ter identificado com a primeira e muito idosa por não ser capaz de me rever na segunda. Contudo, ligando as duas, ainda sou capaz de me reconhecer enquanto menina, pois me divirto cada dia ao aprender coisas novas.
E enquanto assim me sentir, também este dia será sempre um pouco meu, mesmo quando aprendo que há crianças que, mercê da maldade do mundo ou de inclemências da natureza, estarão sempre longe de serem o futuro ideal para a humanidade de que todos fazemos parte.
Crianças raramente são os anjos que cria a nossa imaginação de adultos alheios a um estatuto de perfeição, ainda que para aquelas devessem sempre ser um bom exemplo a seguir. Mas quem se lembra de tal?...a começar por pais e professores?...