quinta-feira, 25 de outubro de 2018

Os dias de cinza...


mais um dia se escoa *
toalha tecida a renda azul e cinza*
debruado a flash-backs de carinho*
 num fervor calado*
 mas revolto*
exalando gestos de vago sofrer,*
filosofia mesquinha de um apenas ser 
**
«pensa mas é em ti» - diz o mundo.*
dizem os velhos.
**
escuto o mundo. peneiro raciocínios.*
dentro de mim rasgam-se espelhos*
de um sentir marmóreo e solto*
gigante- mar na tempestade*
impiedosa, cruel, ansiosa...
**
brado à terra-mãe:*
 - haverá sempre nuvens de cinza*
entremeando luz radiante*
e um sol-pôr*
e noites de breu,*
e outras ainda silentes e olorosas
enquanto o tempo*
 implacável ,hirto, eterno,*
sussurrar*
à nossa porta.


sábado, 20 de outubro de 2018

Ter vivido... viver ainda

Silêncio, desamor, incompreensão e lágrimas
*foram na vida o que mais colhi

*Espinhos acerados de roseira
*as picadas que mais senti

*Por isso as minhas mãos mostram as marcas
*de tudo o que sofri


*As minhas faces, hidratadas pelo choro,
* espelho claro de tudo o que vivi.

*E quando  - e se - a saudade bate à porta 
*pouco ou nada já importa 
*por vos saber, 
*por te sentir,
* aí. 




domingo, 7 de outubro de 2018

Longe...

Imagem de MarcoATGarcia

estou...
sou...
alongada no tempo
triturada na distância de mim
e - sempre mais eu- 
contudo sou

nada para ninguém
mas sou

não sonhando impossíveis
afastando possíveis
vou

 entranhadamente carente de infinito
ilustrando ou deslustrando horizontes 
a cada passo mais exíguos 
estou
a desarmar emoções
em sentir que o próximo anseio 
de toda a liberdade
será florir de amor
na imensidade
misturada ao pó iridescente
manto ténue de um olvido 
omnipresente.

Maria Silva

domingo, 26 de agosto de 2018

Calar e ser...


No céu vestido de azul, na tarde estival, 
 surgiu, a este, uma lua enorme e dourada 
que o sol de longe beijava 
num queixume derradeiro, quase agreste.

Tristemente senti-me encarcerada...


Outrora gostava de falar com a lua
sempre por ela estranhamente enamorada.
Hoje sinto a alucinação do tempo 
corroer todo o espaço ...
limitar-me por dentro. 

Perdidamente olho o espaço 
e nada me apetece,
 nem invejar a ave de aço 
que troando os céus escurece.

Também ela não conhece a liberdade...


Maria Silva

segunda-feira, 23 de julho de 2018

Irmã...


Irmã de dor e de miséria
do ser apegado ao dia-a-dia.
irmã presa ao fogo-fátuo de existir
no mundo imerso em ódios,contra-sensos e vícios
irmã que sofre, chora e dorme
sob as alfinetadas do que corre,
flui e dança
no cinzento a luz e ouro dum morno
e atávico viver...
a quem o desprezo e escárnio de outros
mal tocou...
por isso, te digo:
acorda! 
e ergue-te ! 
volta
à suprema alegria de te dares!

Maria - [26.03.93]