domingo, 2 de dezembro de 2018

Zanga sob o sol de verão...


A espigueira lacerou-me as mãos
 pintou-as de vermelho-sangue
que pingou no chão enegrecido...
sôfrega a terra bebeu -o
sob o sol intenso...
vingativa
  enredou-se-me depois nos meus cabelos 

 zanguei-me

com  força inusitada 
repelou-me também a camisola!

 zanguei-me deveras!

- aquela maninha 
aquela preguiçosa
aquela desgraçada
não deu ainda
    uma única flor!...

Novembro//2018

sábado, 1 de dezembro de 2018

Exploração...


                                  

- Sabes?...
... O mundo lá fora
é um lugar cruel.

... às vezes...

Ah, 
como 
dói 
viver
quando 
falta
a esperança!

                        Manuel Bandeira

...às vezes
 esqueço-me de sofrer
de sentir o frio
de sentir o calor 
de sentir a saudade
de sentir a distância
e até de sentir- 
tout court 
- o conforto

é que
... às vezes...
esqueço-me
de viver.

quarta-feira, 7 de novembro de 2018

Horizonte infindo...


Olhar a extensão do mar até ao horizonte limita-me, angustia-me, tanto ou mais do que um alto muro.Aqui, ainda pode surgir uma fissura...senão real, que se imagina, enquanto o infinito horizonte  me segreda que não posso alcançá-lo, com pés que sinto presos à margem, prisioneira, que sou, desta limitação e sem a mais leve esperança de alcançar a infinitude.
O infinito é frustração perene para o ser que vive à beira do mar. E o marulho das ondas só faz sublinhar, em som sincopado, a impossibilidade física de um homem sequer tocar a linha fictícia desse longínquo horizonte, água/éter azulíneos, cinza, laranja, ou ouro,  que os movimentos astrais lhe emprestam.

quinta-feira, 25 de outubro de 2018

Os dias de cinza...


mais um dia se escoa *
toalha tecida a renda azul e cinza*
debruado a flash-backs de carinho*
 num fervor calado*
 mas revolto*
exalando gestos de vago sofrer,*
filosofia mesquinha de um apenas ser 
**
«pensa mas é em ti» - diz o mundo.*
dizem os velhos.
**
escuto o mundo. peneiro raciocínios.*
dentro de mim rasgam-se espelhos*
de um sentir marmóreo e solto*
gigante- mar na tempestade*
impiedosa, cruel, ansiosa...
**
brado à terra-mãe:*
 - haverá sempre nuvens de cinza*
entremeando luz radiante*
e um sol-pôr*
e noites de breu,*
e outras ainda silentes e olorosas
enquanto o tempo*
 implacável ,hirto, eterno,*
sussurrar*
à nossa porta.